Ser PJ só compensa com 20% a mais de salário; veja como fazer as contas

Trabalhadores também devem incluir no cálculo os benefícios que recebem, já que podem impactar significativamente a diferença entre CLT e regime PJ

Por Larissa Maia, Valor Investe — São Paulo
17/05/2025 07h39  Atualizado agora

Com o aumento das vagas que contratam no modelo Pessoa Jurídica (PJ), os trabalhadores precisam considerar todos os custos e benefícios envolvidos — além do salário — para definir quanto cobrar para manter uma estrutura financeira equivalente à de um contratado pelo regime CLT. Para se ter uma ideia, um profissional PJ precisaria receber quase 20% a mais que um CLT com salário de R$ 2 mil para manter o mesmo padrão, segundo análise do especialista da Rico, Antônio Sanches. Mas como fazer esse cálculo? E o que incluir nessa matemática?

Segundo a legislação brasileira, os trabalhadores do nosso país podem atuar como registrados sob o regime de leis trabalhistas (CLT) ou como Pessoa Jurídica (PJ). No entanto, cada modalidade tem particularidades e direitos que devem ser levados em consideração nas contas, como:

Férias remuneradas: trabalhadores pelo regime CLT recebem um salário adicional por ano;.

13º salário: além disso, recebem também um salário extra que é um direito assegurado pela Constituição Federal a todos os trabalhadores empregados no Brasil;

FGTS: os profissionais que atuam na modalidade CLT recebem um depósito de 8% do salário mensal, que funciona como uma poupança forçada, mas pode ser um grande alívio em momentos de necessidade e até para realizar alguns planos, como financiamento imobiliário.

Por isso, para equiparar a base financeira de um PJ à de um trabalhador CLT, é preciso incluir todos esses custos.

Ricardo Christophe da Rocha Freire, sócio da área de direito do trabalho do escritório Gasparini, Barbosa e Freire Advogados, pontua que, à primeira vista, as remunerações de contrato PJ são maiores. O pagamento por Nota Fiscal representa um custo bem menor para os empregadores, se comparado com o pagamento de salário, seja sob o ponto de vista de custo fiscal, seja custo previdenciário e trabalhista.

“Mas essa comparação não pode ser feita de forma direta na medida em que o empregado, por outro lado, deixa de receber direitos trabalhistas que ele usufrui economicamente. O empregado que se torna PJ deverá fazer a sua conta matemática visto que deixará de receber FGTS (8%), 13º salário (8,33%), férias e 1/3 (8,33% e 2,78%). Normalmente, o empregado que está considerando se tornar PJ deverá computar a “perda” desses direitos e embutir na sua nota o valor equivalente”, explica Freire.

Mão na massa

Para entender quanto o trabalhador deve receber para equiparar o salário ao do CLT, é preciso considerar o valor anual dos benefícios na faixa salarial. Veja o exemplo para que um PJ desfrute dos mesmos benefícios que um CLT que possua um salário mensal bruto de R$ 2 mil:

Férias remuneradas: R$ 2 mil x 33% (adicional pago referente ao período de férias remuneradas)= R$ 660
13º salário: R$ 2 mil
Salário base anual = R$ 24 mil (R$ 2 x 12).
FGTS: 12 x R$ 2.000 x 8% = R$ 1.920
Total de benefícios anuais: R$ 660 + R$ 2 mil + R$ 1.920 = R$ 4.580,00.

Somando esses valores ao salário anual, um trabalhador CLT teria um total de R$ 28.580,00 (R$ 24 mil + R$ 4.580) em recebimentos no ano, resultando em um valor médio mensal de R$ 2.381,67. Sanches aponta que, nesse caso, é necessário que o trabalhador PJ receba cerca de 19% a mais para ter uma base financeira equivalente.

Mas o cálculo vai mais além. Muitos contratos CLT incluem ainda vale-refeição, vale-alimentação, plano de saúde e odontológico, seguro de vida, previdência privada, entre outros, o que impacta neste cálculo.
“Esses adicionais podem ampliar ainda mais a diferença entre o que seria necessário para um PJ alcançar o mesmo nível de proteção financeira”, diz Sanches.

Por outro lado, os impostos cobrados podem impactar consideravelmente esse cálculo, segundo o analista. Vale lembrar que quanto maior a faixa salarial, maior é o imposto retido na fonte do salário do CLT.

Em um outro exemplo, em um cálculo considerando a remuneração média do brasileiro, segundo a PNAD de fevereiro de 2025, com um ganho de R$ 3.378,00 para o CLT — com os benefícios mencionados — seria necessário que o profissional receba cerca de 15% para se equiparar financeiramente, aponta Sanches.

“Assim, quanto maior o salário mensal, melhor tende a ser o resultado líquido para o trabalhador MEI, que contribui com um valor fixo aproximado de R$ 72,00 de imposto até o limite de R$ 81.000,00 de faturamento anual. Ultrapassando esse valor, a empresa precisa migrar para o regime Simples Nacional, onde a tributação é consideravelmente mais alta”, diz o analista.

Planejamento financeiro é ainda mais importante para o PJ

De acordo com o analista, para quem optar pelo regime PJ, que pode oferecer remuneração líquida mais alta, é ainda mais importante ter um planejamento financeiro rigoroso para compensar a ausência dos benefícios garantidos pela CLT.

A dica aqui é construir uma base sólida: investir de forma consciente e disciplinada, diversificando seus investimentos, reservando uma parte dos rendimentos para imprevistos e até planejando por conta própria suas férias e “13º salário”.

Publicado em Valor Investe